"Charcos Temporários: um habitat natural a proteger!"

Anfíbios

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Salamandra salamandra


Este anfíbio faz parte da ordem Caudata, ou seja, tem cauda e patas pequenas que servem para caminhar e não saltar. É uma salamandra de tamanho médio com um comprimento que, por norma, é entre os 14 e 17 cm, embora raramente chegue até aos 20 cm. No sul de Portugal já foi encontrado um individuo de 25,3 cm.

Possui a cabeça grande e achatada com contornos arredondados. As glândulas parótidas são grandes e com poros escuros bem visíveis. Os olhos são relativamente proeminentes localizados na posição lateral. O corpo é robusto com sulcos nos flancos e uma fileira de poros glandulares em cada lado da linha média vertebral.  A cauda é de secção transversal redonda e ovalada. Os membros são robustos, com quatro dedos nas patas anteriores e 5 nas posteriores. A pele é lisa e brilhante. A coloração dorsal é negra com manchas amarelas em número variável. Em alguns casos, a coloração amarela pode dominar sobre o negro. Na região dorsal da cabeça e corpo podem também existir pontuações vermelhas.

Salamandra-de-pintas-amarelas (Salamandra salamandra) - fotografia de Vasco Flores Cruz em Anfíbios e Répteis de Portugal

Os machos e fêmeas são muito semelhantes, excepto durante a época de reprodução, quando a diferença mais visível é a cloaca inchada do macho. Também as fêmeas podem ser um pouco maiores e mais robustas do que os machos, apresentando a cauda proporcionalmente mais curta.

Comportamento

Os adultos apresentam hábitos noturnos, sedentários e totalmente terrestres, procurando meios aquáticos apenas para se reproduzir. A sua atividade anual está concentrada nos períodos mais húmidos, normalmente entre setembro e maio. Esta espécie de salamandras apresenta uma locomoção lenta.

As larvas desta espécie são estritamente aquáticas.

Reprodução

A época de reprodução ocorre entre Setembro a Maio e o acasalamento acontece em terra. Durante a cópula, o macho coloca-se debaixo do corpo da fêmea, segurando-a com os membros anteriores e esfregando a cabeça na sua garganta. Em seguida, ambos entrelaçam as suas caudas e o macho liberta o espermatóforo que é recolhido pela cloaca da fêmea.

A reprodução desta espécie é ovovivípara ou vivípara, ou seja, os ovos desenvolvem-se e eclodem dentro da salamandra e aquando da postura nascem já as pequenas larvas. Por esta razão no período que precede o nascimento das larvas as fêmeas ficam muito inchadas, como se pode ver na imagem seguinte.

Salamandra salamandra grávida - fotografia de Vasco Flores Cruz em Anfíbios e Répteis de Portugal

De cada fêmea podem nascer entre 20 a 40 larvas. As larvas, então eclodidas dentro do ventre da progenitora, são libertadas diretamente nos corpos de água adequados, charcos temporários, como se pode ver na imagem seguinte.


Larva de Salamandra salamandra  - fotografia de Vasco Flores Cruz em Anfíbios e Répteis de Portugal

Larva de Salamandra salamandra - fotografia de Vasco Flores Cruz em Anfíbios e Répteis de Portugal

Em geral, as larvas atingem a metamorfose entre dois a seis meses após o nascimento. Os jovens metamorfoseados, já semelhantes aos adultos em termos de coloração, são menos sedentários que estes, podendo realizar deslocações consideráveis nas imediações dos charcos temporários.

A maturidade sexual é atingida aos três ou quatro anos, e a longevidade conhecida para esta espécie na natureza é de 20 anos.

Alimentação

A alimentação dos adultos é constituída por invertebrados terrestres, nomeadamente, escaravelhos, formigas, caracóis, lesmas, minhocas, centopeias e aranhas. As larvas são muito vorazes e alimentam-se de de insetos aquáticos, crustáceos, pequenos vermes e larvas de outros anfíbios podendo ser da mesma espécie.

As salamandras possuem poucos inimigos naturais, mesmo assim a cobra-de-água, víboras e ocasionalmente algumas aves. As larvas são presas frequentes de peixes (quando existe no meio aquático escolhido para a reprodução), cobras-de-água, insetos aquáticos, aves aquáticas, e larvas da própria espécie mas de tamanho maior.

O principal mecanismo de defesa consiste nas secreções tóxicas das suas glândulas cutâneas, nomeadamente das suas grandes glândulas parótidas. A elevada toxicidade desta salamandra é "sinalizada" aos predadores pela sua coloração, com manchas amarelo vivo sobre fundo preto. Por vezes, podem adotar uma posição de defesa que consiste em baixar a cabeça e arquear o corpo, tornando evidentes as suas glândulas parótidas e coloração.

Espécie terrestre comum que vive sobretudo onde haja arvoredo, já que a salamandra gosta de se esconder sob pedras, debaixo da folhada caída em troncos de árvores apodrecidas, cobertos de musgo ao redor.

Normalmente os adultos são encontrados em noites molhadas atravessando lentamente o campo, os caminhos ou as estradas durante a breve migração para os locais de postura das larvas.

É um animal sedentário que pode permanecer no mesmo local por vários anos.

A salamandra tem uma distribuição muito generalizada pela Península Ibérica e pela Europa, onde ocorrem várias subespécies.

No caso da Salamandra salamandra crespoi está precisamente restrita ao Sudoeste de Portugal, desde Alcoutim, pelas serranias algarvias, norteando pelo sector do Alentejo Litoral até ao estuário do Sado, havendo para além disso um pequeno núcleo na serra da Arrábida/Sesimbra.

 

As populações mais vulneráveis parecem ser as do Sul do país, onde a espécie é menos abundante e está mais sujeita a dois fatores de ameaça principais: a destruição do seu habitat, que poderá eventualmente ter causado a sua aparente extinção nas planícies agrícolas do Baixo Alentejo, e a introdução de predadores em meio aquático, onde habitualmente se reproduzem.

Loureiro, A. Ferrand de Almeida,N. Carretero, M.A. e Paulo, O.S. (eds.) (2008) Atlas dos Anfíbios e Répteis de Portugal. 1ª edição, Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade, Lisboa, 257 pp.


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